sábado, 24 de setembro de 2016

“A pessoa com deficiência na minha história de vida”

Quando criança não tive muito contato com crianças com deficiência. Na escola em que estudava, no ensino fundamental, havia dois cegos em uma turma um ano adiante da minha. Sempre tive curiosidade em conversar com eles, mas nunca o fiz. Apesar de eles estarem na escola regular, não fomos incentivados a interagir com eles. Acredito que seus colegas de turma sim, pois os tratavam, aparentemente, de forma igualitária. Eles não tinham acompanhantes fixos, circulavam pela escola com suas bengalas sozinhos ou na companhia de colegas e, eventualmente, de um inspetor. Lembro da minha curiosidade sobre as máquinas de escrever e de observar o contorno dos olhos de um deles. Uma das meninas era muito estilosa e usava um óculos fumê, não era completamente escuro nem translúcido. Era marrom claro e não lembro de a ver de olhos abertos. Essas são minhas memórias mais infantis.
Outra memória bastante vívida é de uma criança com síndrome de Down na praia. Lembro do amigo do meu pai todo carinhoso com aquela criança desconhecida, enquanto seu filho, um pouco egoísta, brigava com ele pelo brinquedo e seu pai tentava, docemente, contornar o conflito. A mãe da criança apareceu e ficou muito sem graça, mas pude ver nos olhos dela a gratidão pela forma com que ele tratava o filho dela. Depois, devo ter perguntado algo sobre a situação e minha mãe me explicou que o tio tinha uma irmã com esta síndrome que havia falecido há alguns anos e que ele sentia saudades dela.
Quando adolescente lembro de ir a uma festa de uma colega de escola e me deparar com seu priminho autista. Foi a primeira definição que me foi apresentada: ele tem dificuldade em interagir com as pessoas. Lembro de estranhar a situação, pois não compreendia o que aquilo queria dizer.
Na faculdade, um colega meu se ofereceu para ficar na casa dos meus pais para participar de um congresso sobre surdez. Eu acabei me inscrevendo e indo com ele. Fiquei maravilhada com a LIBRAS, o orgulho e a cultura surda. Foi a primeira vez em que eu vi a deficiência como algo positivo, apesar de, muitas vezes, não necessariamente ver como algo negativo.
Convivi minha vida inteira com uma tia que mancava muito em decorrência de uma poliomelite na infância. Nunca a vi como deficiente. Na infância ela era uma heroína para mim e para os outros sobrinhos, pois ela contava histórias, propunha e se envolvia em nossas brincadeiras.
Hoje, divido minhas meus dias, minhas alegrias, minhas tristezas e muito amor com meu companheiro que é considerado pessoa com deficiência. Ele é monocular. Perdeu a visão em um acidente doméstico na infância. Embora não tenha grandes limitações, ele é um exemplo para mim. Uma exemplo de superação e de como uma pessoa pode ser carinhosa nessa vida.

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